
A vida humana transformara-se num verdadeiro furacão, uma tempestade permanente que ocasionava cada vez mais desespero perante a impiedade do tempo. A modernidade passara a ser controlada pelo relógio: as tarefas quotidianas, o trabalho, o lazer, tudo é controlado e o homem vai acentuando a sua escravidão ao tempo. Os especialistas na matéria, os media, criaram a ideia de “optimização do tempo”. No entanto, esta ideia não obedece a qualquer atitude positiva perante o tempo mas apenas à tentativa de o usar da forma mais intensa possível. O tempo em si permanece incontrolável.
Mas, o que evoca realmente Salvador Dali quando nos apresenta o tempo desta forma? Talvez nos aponte a necessidade de relativizar o presente e evocar a memória: o passado, os tempos assassinados pelo presente, pela fúria da modernidade. Talvez esse tempo que já não existe seja o refúgio onde se encontra a paz: as memórias de infância, os sonhos que nos fizeram viver, as utopias que perseguíamos… talvez esta espécie de saudosismo seja um refugio da alma na sua tentativa de fuga ao presente…
O tempo é, no fundo, realidade subjectiva. Moldável, adaptável. Impiedoso, triunfa sobre a vida humana, mas o sonho é o caminho para o vencer. No entanto, por mais elaboradas que sejam as interpretações deste quadro, nada nos pode afastar deste confronto entre o real e o tempo, dando origem a um aspecto geral de decadência, uma espécie de paisagem de final de batalha. Tudo indica que não há vencedores na guerra entre a vida e o tempo.
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Texto de Zeus